Quando eu tinha 12 anos, aproximadamente 15 anos atrás. Ainda estava no colégio e era constantemente perseguido por meninos mais fortes do que eu. Meninos sem nada na cabeça, mas que marchavam e ofendiam como titãs. Hoje, mesmo sentado na mesa de meu quarto imerso em pensamentos suicidas e com uma depressão que poderia ser descrita com a imagem do fundo do poço, morando em outra cidade a anos de distância desta linha de acontecimentos e praticamente vivendo uma nova vida, ainda poderia descrevê-los como se estivessem na minha frente e apesar de mantê-los no anonimato me lembro de seus nomes, sobrenomes, datas de aniversário e endereço.
Se nos encontrássemos em alguma rua sem nome em um dia resplandecente em que nossos rostos estivessem perfeitamente iluminado, acredito não haver a menor possibilidade de que se lembrem de mim, uma verdade que descobri foi que quem bate esquece e por mais que eu me lembre de todas as pessoas que me bateram e todos os seus traços fisionômicos, não me lembro das que por mim foram violentadas física ou psicologicamente, pois sendo um ser humano é impossível que eu não tenha cumprido com minha cota de caos e destruição. Acredito inclusive que sequer seria capaz de arcar com a responsabilidade pela dor de outrem até pouco tempo atrás. Nunca conheci nenhum homem que não fosse o herói de sua própria história, cujos próprios males não fossem tratados como um mal necessário.
Desde que fiz 10 anos estudei junto com esta escória, sendo humilhado, ofendido e esporadicamente espancado. Desde o primeiro mês esta vara implicou comigo. Nunca soube o motivo, mas eles não foram exceção, há alguma clara vulnerabilidade em mim que sou incapaz de identificar. Tenho uma inerente capacidade de não passar despercebido por predadores e porcos. Em um exercício metafísico levantaria a hipótese que algo no meu jeito de andar ou falar me entrega, talvez eu tenha dito uma palavra mal colocada ou colocado o pé esquerdo na frente do direito durante uma caminhada como nenhum homem faria. Talvez seja apenas como as coisas são e não haja diferença entre sociedade e cadeia alimentar. De qualquer forma não adianta refletir sobre o assunto, sendo eu já um adulto, permaneço um homem pequeno diante de grandes problemas.
De segunda a sexta me sentia no purgatório, mas as terças feira conseguiam ser o inferno. Sendo filho de uma mãe solteira, responsável pelo lar e inserida na cadeia produtiva, não havia para ela outra opção que pedir a meus algozes que cuidassem de mim enquanto ela fazia uma hora extra para arcar com minhas roupas, meus livros escolares e alguns aparelhos eletrônicos. Hoje, oro para que Deus me livre de ter um filho, a economia não me permite tais artigos de luxo.
Minha mãe teve meu irmão ainda cedo, aos 23 anos. Quando engravidou pela segunda vez, do que viria a um dia ser eu, meu pai a abandonou saindo em viagem para Deus sabe onde, sem se despedir sequer por telefone ou enviar um cartão postal para dar sinal de vida. Involuntariamente mamãe se responsabilizou por criar dois filhos sem receber nenhuma ajuda financeira. O nome de meu pai não consta na minha identidade, mas costumava lê-lo na de meu irmão mais velho. O conheci apenas por foto e até hoje não sei se foi relevante ou irrelevante para minha vida, além da óbvia participação em minha concepção.
Os períodos de minha infância em que tinha mais paz era quando aparecia alguma moda nova,
fossem figurinhas ou peões. Os valentões acabavam passando algumas semanas distraídos e eu passava despercebido diante de seus cards brilhantes. Até hoje vejo esse fenômeno nos homens, com seus cérebros de pombos, sempre deslumbrados com objetos brilhantes, sejam coroas, medalhas ou cápsulas de munição.
A idade trouxe a puberdade, algo tão bom quanto uma moda surgiu ao meu redor. Meu corpo estava começando a desenvolver, assim como o de todos ao meu redor. Pelos começaram a aparecer no peito, virilha e axilas, meus membros começaram a ficar desproporcionais, principalmente meus braços.
Alguns de meus algozes tinham até bigodes com pelos finos e delicados. Lembro que achava engraçado. “Isso não é um bigode de verdade” eu pensava com um sorriso de escárnio. Na minha cabeça um dia um médico tocaria minha campainha como uma empresa de TV a cabo e diria: “Bom dia senhor, viemos instalar sua barba” e então eu caminharia pelo mundo com um rosto másculo e peludo.
A maior mudança no entretanto foram as ereções aleatórias que se tornaram comuns em minha vida, qualquer coisa era capaz de induzir uma, até o sacolejar do ônibus. Na minha cabeça de 12 anos eu achava que todos sabiam quando eu tinha uma, imaginava meus pseudo-colegas de classe me olhando caminhar pelos corredores e fazendo escárnio pelas minhas costas por desfilar com um pênis semi-civilizado. Até hoje não tenho certeza se eles sabiam. Sei que eu nunca soube quando algum outro menino tinha, mas sempre fui disperso e não observava muito o mundo ao meu redor.
Com os hormônios fora de controle, toda a escola buscava uma forma de acalmá-los. As garotas em geral preferiam os garotos mais velhos, perseguindo o mito de maturidade que nunca conseguiam encontrar. Eventualmente se tornava apenas um status namorar um garoto mais velho, mas no fim não que havia muita diferença entre uma ou duas séries. Éramos igualmente crianças e só os meninos mais jovens não sabiam este segredo, na escola não se ensina o óbvio.
O paliativo eram revistas e vídeos, a busca era intensa e o acesso pequeno. Quem conseguia obter esse tipo de material geralmente eram os garotos que tinham um irmão. Eu tive um irmão. Ele saiu de casa com 17 anos deixando apenas um bilhete de despedida guardado por minha mãe e longe de meu alcance. Quando nos separamos ele estudava alquimia em um colégio técnico. Em casa ele tinha um quartinho de trabalho para suas poções, animais e sei lá o que mais um alquimista usa. Ele passava todo o tempo trancado naquele cômodo e eu só conseguia perambular por lá quando ele não se encontrava em casa. A porta estava sempre fechada para todos.
Neste fatídico dia, ao chegar em casa fui até quarto selado por minha mãe. Desde sua partida, ninguém havia entrado lá, nem mesmo para limpar. Quando eu entrei estava cheio de poeira e teias de aranha, fiquei com nojo, felizmente nunca tive problemas respiratórios, entretanto temia os animais que podiam ter se refugiado no quarto. Sempre fui covarde e sempre cultivei um medo especial por animais peçonhentos. Até hoje não encontrei nenhum, mas o medo ainda existe.
O quarto era um ambiente pequeno, desorganizado e abafado. Havia uma pequena janela fechada com uma cortina corta luz. Quando entrei não conseguia ver o que havia diante de mim, e não me lembrava mais onde ficava o interruptor, com o auxílio da luz do corredor consegui acha-lo. Não tive coragem de abrir a cortina, não queria deixar provas de que estivera naquele local em que não era permitida ou bem vinda a minha presença.
Obviamente usei o quarto como estava sem tirar pó ou varrer, com 12 anos a casa toda podia estar nesse estado e eu não teria ligado, quando olhei ao redor lembrei-me que meu irmão era estranho. Alguns anos depois, consegui definir o que entendia como estranho naquela época: significava babaca pretensioso. Haviam óculos escuros, alargadores, piercings e uma polaroid de madeira.
No quarto também havia um pequeno estoque de produtos químicos que meu irmão usava em seu curso técnico. Obviamente fucei em todos, lembro que havia frascos em vários formatos, alguns estavam fechados com rolhas, outros com delicadas tampas de vidro, a maior parte dos frascos possuía uma base em formato de bulbo com gargalos finos. Haviam também alguns invólucros menores com conta gotas como tampa, esses tinham rótulos com caveiras e apesar de tê-los tocado, não abri. Por semiótica sabia que caveiras não eram bom sinal, ironicamente, alguns meses após essa experiência, passei por um período mórbido durante minha adolescência e só usei camisas pretas que as tivessem estampadas. Por mórbido, entende-se: Babaca pretensioso.
Na mesa de meu irmão havia muitos livros e papéis, os revirei em busca das revistas pornográficas, mas não as encontrei. No topo haviam vários desenhos, ou melhor, cada folha continha um traço feito com pena e tinta vermelha, como alguém que começa a traçar uma obra e desanima por seu esforço inicial não ter resultado em uma obra prima. Comecei a atirar os papéis no chão, já familiarizado com o quarto e com indiferença a fúria de minha mãe. Desatento, mudei todos os frascos da estante de lugar deixando impressões digitais por todo o ambiente. Entre os papéis haviam gráficos, cálculos, livros didáticos, cadernos de escola e também alguns desenhos terminados que hoje decoram minha casa.
Devo admitir que fiquei frustrado quando não encontrei o que procurava. Minha pequena esperança de conseguir um pouco de paz começava a desaparecer. Felizmente encontrei algumas revistas na mesa de cabeceira da cama em uma gaveta trancada. Eram duas ou três revistas e todas as páginas duplas estavam coladas. Aos 15 anos não me passava pela cabeça porque as páginas estavam coladas ou o que meu irmão havia usado para cola-las, era um segredo dos adultos. Apesar da ingenuidade, nesse dia vi o corpo feminino nu pela primeira vez em minha vida. Não me lembro mais do nome das modelos que posaram para a revista, mas lembro de percorrer seus corpos com meu indicador, olhando com deslumbre uma forma parecida com a minha porém completamente desconhecida e cheia de mistérios.
Tendo adquirido o que tanto desejava, abracei minhas revistas e preparei-me para deixar o quarto. Foi enquanto fechava a porta que tive minha ideia genial, pela fresta vislumbrei a velha polaroid do meu irmão. Adentrei novamente o quarto e decidi reproduzir as fotos da revista, para não deixá-las à mercê de meus algozes.
Na época, achava que a reprodutibilidade fotográfica me faria a pessoa mais poderosa do colégio e ao mesmo tempo me permitiria manter meu pequeno tesouro. Hoje imagino que os outros estudantes fossem apenas bater em mim e tomar as fotos que desejavam e eventualmente adentrariam minha casa no meio da noite para tomar as outras imagens que me recusaria a dividir, pois de maneira alguma entregaria a imagem de Marina para os dedos gordurosos de meus inimigos. Por mais que eu ache abominável admitir, a violência também é capaz de produzir ótimos resultados para algumas pessoas.
Coloquei a revista na vertical, sendo amparada pelos potes na prateleira, obviamente não os frascos com caveiras. A máquina era um cubo de madeira com uma lente em seu centro. Quando eu o apertei o botão que capturava a luz, um flash iluminou todo o quarto. Fiquei sem conseguir enxergar por algum tempo com um véu prateado cobrindo minhas vistas que tão rápido quanto surgiu também desvaneceu deixando-me novamente entre poeira e escuridão.
Antes de voltar a enxergar ouvi um barulho de um frasco caindo, comecei a perder as esperanças, minha ambição me custara uma revista e meu novo acervo era pequeno. Quando minhas vistas voltaram estava com náuseas, e a modelo da revista estava comigo. Por inércia, minha primeira preocupação foi a revista. Verifiquei se ela realmente havia caído e sofrido danos. Parecia estar tudo certo. O que tinha caído era um vidro com caveirinha da prateleira de baixo. Minha mãe não entrava mais nesse quarto então estava tudo tranqüilo desde que eu não morresse devido ao contato com o produto químico. O conteúdo do frasco não era uma prioridade para minha cabeça de 12 anos, assim me adaptei a situação e continuei minha empreitada. Os jovens não se preocupam de verdade.
Peguei a foto e passei a página, estava desconcertado demais para encarar o elefante branco no quarto. Sendo a única pessoa no quarto, a mulher da revista veio em minha direção e perguntou:
-Menino. Onde nós estamos? Eu estava em uma sessão de fotos, não sei como vim parar aqui, você viu quem nos trouxe para cá. - A dama estava claramente preocupada e na época eu não imaginava o porque. Deseja apenas que ela fosse embora, deixando-me com minha timidez.
-Estou em casa. Você tem que ir embora antes dela chegar, senão ela vai me xingar. Eu não posso ter visitas sem avisá-la com antecedência.Em nenhum momento olhei para seu corpo ou seu rosto, por mais que desejasse era incapaz de fazer contato visual.
-Então eu posso ir embora?
-Acho que sim, mas não sei. Não tem ninguém aqui em casa para eu perguntar.
-Eu vou pra casa então, posso dar uma olhada nas roupas da sua mãe.
-NÃO! Isso seria roubo, e roubo é crime.
Apesar de ter vivido o sonho de um adolescente, eu tinha algo muito maior em mente. A mulher pegou as roupas mesmo eu tendo avisado que era roubo e foi-se embora. Hoje, sorrio com minha ingenuidade e fico feliz que minha imaturidade não tenha a impedido de vestir-se. Não cheguei a acompanhá-la até o quarto para pegar as roupas ou abri a porta de entrada para que ela saísse. Ao descobrir que a máquina conseguia criar vida, já tinha articulado um plano muito melhor do que trocar pornografia por proteção na escola.
Peguei os papéis com rabiscos na mesa de meu irmão e comecei a desenhar meu próprio zoológico. Na época tinha muita coragem, mesmo sendo covarde. Hoje teria feito testes iniciais antes de sair gastando o filme para dar vida a qualquer coisa. Primeiro eu estudaria objetos, depois anatomia e com muitos anos de estudo começaria meu projeto. Seria um empreendimento completamente sistêmico.
O primeiro animal que desenhei foi um leão.Quando estava terminando me lembrei de apagar os dentes e as garras. Não me pareceu uma boa idéia arma-lo, quando minha intenção era cavalga-lo e acariciá-lo. Quando estava prestes a dar vida ao leão, tive uma idéia ainda melhor. Comecei a traçar um rinoceronte, porque em uma epifania percebi que leões não podiam ser mais legais que rinocerontes, uma vez que não tinham um chifre gigante na cabeça. Talvez eles fossem grandes demais para serem montados, mas na televisão eles sempre me pareceram pacatos e bobos. Eu realmente acreditava que poderia lidar com um rinoceronte, inclusive com muito mais tranquilidade do que com um leão. Minha ingenuidade de adolescente me dizia também que os rinocerontes não eram assim tão diferentes dos cachorros.
Fiz o melhor desenho que consegui. Um olho egípcio, formada por uma elipse muito estranha que ultrapassava o contorno da cabeça, o chifre era do mesmo tamanho que o olho e o resto do corpo era menor que qualquer uma dessas duas partes, após passar alguns minutos na cabeça, o resto do corpo foi apenas um desenho de um losango com patas, até hoje não tenho certeza se rinocerontes tem rabo e não me lembro se na época desenhei um, acredito que o meu não tivesse. Sei que só desenhei as patas de um lado do corpo por estar em perfil.
Quando fui tirar a foto, a máquina esfregou todos esses erros na minha cara. Esperei a criação de um rinoceronte, forte, grande e magnífico. Um animal selvagem e ao mesmo tempo meu melhor amigo. Provavelmente foi o momento mais demorado de minha infância apesar da foto ter sido tirada em segundos. Creio nunca ter ficado tão ansioso e esperançoso como naquele dia.
O resultado foi o rinoceronte que eu havia desenhado, mas não o que eu havia imaginado. O chifre ia até o teto, um círculo de osso saia do que deveria ser a cabeça e formava um arco na mesma altura do chifre. Duas patas se moviam em um dos lados da carcaça do animal que não conseguia manter o equilíbrio ou sustentar o próprio peso. O outro lado por sua vez, era um amontoado de entranhas expostas que deviam estar sendo expostas em uma aula de anatomia.
Após vomitar um pouco, desisti de fazer animais reais percebendo que o potencial da máquina que tinha em mãos era ainda maior do que eu havia imaginado. Comecei com unicórnios, pegasus, dragões e rinoleões, depois comecei a misturar partes de animais, também usei humanos. Sabem como é, crianças e ética não se misturam. Minhas “fotografias” já ocupavam todo o chão do quarto e por mais que eu estivesse melhorando, elas não me satisfaziam. Ainda eram quimeras não funcionais.
Foi enquanto fazia um anjo, que tive minha idéia genial. Comecei a desenhar Deus. Mas como era Deus? Fiz vários desenhos para refletir sobre a questão. Quando os papéis de meu irmão acabaram comecei a arrancar as páginas de seus livros e desenhar por cima delas. Produzi mais algumas imagens e escolhi quais iria fotografar. Escolhi as quinze melhores e comecei a última etapa de meu trabalho. Fotografei a primeira, o flash me cegou, mas nada surgiu. Fotografei a segunda e novamente nada apareceu. Tirei mais uma apenas para confirmar minha decepção.
Cansado, deixei tudo que havia feito de lado e fui assistir TV e tomar um achocolatado. Já havia perdido meu desenho animado favorito; o Power Dino Fighters. Fiquei um pouco chateado por não ter desenhado nenhum dinossauro, mas no meu terceiro copo de leite já havia passado.
Os desenhos ficaram parados e hoje já foram jogados no lixo. Já se passou muito tempo para que eu diferencie o que consegui realizar naquela tarde e o que acho que realizei. No outro dia fui para o colégio como sempre, inventei uma dor de cabeça para faltar, mas essa estratégia nunca funcionou com minha mãe.
Apenas uma semana mais tarde quando as carcaças começaram a apodrecer e o fedor impregnou nossa casa, minha mãe com relutância entrou no quarto. Ela ligou para o colégio de meu irmão desesperada, sem saber como lidar com o cemitério de animais fantásticos mal desenhados que eu havia criado.
Ela me perguntou se eu havia entrado no quarto com uma voz calma e acalentadora, mas o ódio em seus olhos não me enganou. Dei meu mais sincero sorriso falso e disse: Não. Enquanto fingia ler um livro de matemática apenas com um olho, pois o outro estava roxo devido a uma recente briga unilateral que tivera mais cedo.
Os alquimistas se encarregaram de enviar uma carrocinha para se livrar dos restos de minhas quimeras, tive que me segurar para não me despedir de meu amado rinoleão. Os magos da carrocinha não me perguntaram nada. Os adultos não ligam para as opiniões dadas ou versões contadas por crianças, ninguém espera nada dos infantes. Tudo que obtive de concreto dessa experiência foram as revistas, que foram descartadas após eu ter descoberto o que meu irmão havia usado para colar as páginas.
Se tivesse aos 12 anos o conhecimento que posso hoje, teria dedicado minha atenção a modelo da revista. Pouco teria eu alterado, sendo o mundo um zoológico de homens, animais e Deus. Deseja ver Buda? Vá até seu templo. Quer ver um leão? Vá até sua jaula. Quer ver um Rinoleão? Dê a ciência um tempo, logo alguém o criará.
Qual a relevância de minhas memórias para o futuro? Enquanto relembro o passado, vejo que as coisas apenas pioraram. Lembro-me de minha mãe aconselhando-me a aproveitar minha infância, pois era a melhor parte da vida. Em nenhum momento acreditei em suas palavras, mas era verdade. Não que fosse bom, mas eu não sabia que era possível piorar.
Tendo sido abandonado por meus parentes e com o espírito da minha mãe sido reivindicado por Deus. Sem amigos, amor e ignorado pela economia. Escrevo esta carta de suicídio, mas não me julgue precipitadamente. Tenho em mãos a polaroid de meu irmão. Logo vocês terão uma nova versão minha para perseguir, humilhar, ofender e ignorar até que ela se canse e deixe uma cópia em seu lugar. Aqui me despeço dessa vara disfarçada de civilização.